quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Vale paga R$ 3,8 bi pela área de fertilizantes da Bunge para se tornar líder do setor

27/01 - 11:48 - Aline Cury Zampieri e Sabrina Lorenzi, do iG


A Vale anunciou nesta quarta-feira a compra de 100% dos ativos de fertilizantes da Bunge no Brasil por US$ 3,8 bilhões. No negócio, US$ 1,65 bilhão será pago pelos ativos de rocha fosfática e fosfatados da BPI, subsidiária da multinacional no País. E US$ 2,15 bilhões se referem às ações detidas diretamente e indiretamente pela BPI na Fosfertil, informa a companhia. A transação foi antecipada horas antes do anúncio pelo colunista do iG Guilherme Barros.


Consumo de fertilizantes no Brasil crescerá mais rápido, diz Vale
Vale e Bunge estão próximas de um acordo
Brasil acumula déficit comercial de quase US$ 4 bi em fertilizantes


"Esta operação é de fundamental importância para a consolidação da estratégia da Vale em focar o Brasil como o grande mercado para sua produção de fosfatados, tendo em vista o potencial das minas locais, bem como o crescimento associados aos projetos desenvolvidos no exterior, como Bayóvar e, no futuro, Evate, todos com produção prioritariamente destinada ao mercado brasileiro", afirmou o presidente da mineradora, Roger Agnelli, por meio de nota à imprensa. Em fosfato, a Vale detém os projetos Bayóvar I e II, no Peru, e Evate, em Moçambique.

A compra devolve a Fosfértil para a Vale, que vendeu para a Bunge sua participação na empresa em 2003 por R$ 240 milhões. Na ocasião, a operação envolveu 3.955.293.931 ações ordinárias e 7.910.587.866 ações preferenciais, totalizando 11,12% do capital total dessa empresa.

A estratégia atual da Vale é se tornar líder do País em fertilizantes, mercado crucial na cadeia produtiva de um dos segmentos que mais crescem no Brasil e no mundo: o setor de alimentos. A empresa já vem adquirindo áreas de pesquisa e exploração de insumos de fertilizantes desde meados da década. No ano passado, adquiriu da Rio Tinto dépositos de potássio por US$ 850 milhões.

Potássio e fosfato são os principais insumos necessários à produção de fertilizantes, que também leva componentes como nitrogênio e hidrogênio.

A Vale já possui uma mina de potássio no Brasil, a Taquari-Vassouras. E há também outros três projetos em desenvolvimento no País.

“O desenvolvimento de nossos projetos e a aquisição do portfólio de ativos de fertilizantes permitirão que a Vale se torne num dos principais produtores de fertilizantes do mundo nos próximos sete anos, com uma produção estimada de 3,3 Mt de ácido fosfórico e 10,7 Mt de potássio”, informa a companhia em comunicado ao mercado.

Segundo a Vale, a BPI, que acaba de ser negociada pela empresa, é a segunda maior produtora de fertilizantes fosfatados no Brasil. Com duas minas de rocha fosfática (em Araxá, em Minas Gerais, e Cajati, em São Paulo) fornece 14,2% do consumo total do País.

Além das operações de mineração, os ativos que serão comprados pela Vale da Bunge envolvem quatro plantas de processamento para a produção de fertilizantes fosfatados localizadas em São Paulo e Minas Gerais. A Fosfertil opera três minas de rocha fosfática: Catalão, no estado de Goiás, Tapira e Passos Minas, ambas localizadas no estado de Minas Gerais.

Segundo a Vale, a Fosfértil está desenvolvendo Salitre, um projeto de rocha fosfática com capacidade de produção estimada em 2 milhões de toneladas por ano. O projeto é localizado em Patrocínio, em Minas Gerais.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

I Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale do Rio Doce

I Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale



Nós, organizações e movimentos sociais e sindicais do Brasil, convocamos e convidamos organizações sociais e sindicais do Canadá, Chile,
Argentina, Guatemala, Peru e Moçambique para o I Encontro Internacional de
Populações, Comunidades, Trabalhadores e Trabalhadoras atingidos pela
política agressiva e predatória da companhia Vale do Rio Doce, entre os
dias 12 e 15 de abril de 2010 no Rio de Janeiro.

A Vale, dona que quase todo o minério de ferro do solo brasileiro, é hoje
uma empresa transnacional, que opera nos cinco continentes, 14ª companhia
do mundo em valor de mercado, explorando os bens naturais, as águas e o
solo, precarizando a força de trabalho dos povos em todo o mundo. Ela foi
uma empresa estatal até 1997, quando foi privatizada de maneira
fraudulenta pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um valor sub-avaliado
de R$ 3,4 bilhões de dólares. Desde então gerou lucro de 49 bilhões de
dólares, e distribuiu a seus acionistas 13 bilhões de dólares, êxitos que
obtém às custas da exploração dos bens naturais, das águas e solo e pela
precarização da força de trabalho dos povos nos países que explora.

A propaganda da Vale nos lembra todos os dias que ela é brasileira e que
trabalha com "paixão" para promover o "desenvolvimento sustentável" do
Brasil e para garantir um futuro para nossas crianças. Utiliza em suas
propagandas a imagem de brasileiros ilustres e artistas famosos. Em 2008,
a Vale gastou R$ 178,8 milhões em propaganda (Ibope Monitor). As bonitas
imagens omitem a face oculta da empresa, construindo no imaginário do
brasileiro comum a imagem de uma Vale patriota e paternal. Não é isso,
contudo, o que pensam as pessoas que vivem nos territórios explorados pela
Vale, seja no Brasil ou nos outros países em que a companhia está
presente. Os trabalhadores e as comunidades afetadas, no entanto, não têm
o poder e o dinheiro da Vale para ocupar a mídia brasileira e mundial com
as suas opiniões e relatos sobre a influência da empresa sobre suas vidas

A exploração de minério e outras atividades da cadeia de siderurgia têm
causado sérios impactos sobre o meio ambiente e a vida das pessoas. A
poluição das águas com produtos químicos, a intervenção direta na
destruição de aqüíferos, a produção de enormes volumes de resíduos em suas
atividades de mineração (657 milhões de toneladas por ano), a emissão de
dióxido de carbono na atmosfera, o desvio de rios que antes atendiam
comunidades inteiras para uso da companhia, o desmatamento de florestas e
matas, a destruição de monumentos naturais tombados, a mineração em áreas
de mananciais de abastecimento público, o impacto sobre as populações
indígenas e tradicionais, a poeira de minério levantada em suas
atividades, a desapropriação forçada de comunidades, rebaixamento do
lençol freático, a associação da empresa com projetos industriais e
energéticos que têm interferido na destruição da Amazônia e do Cerrado brasileiros, a eliminação de trechos ferroviários seculares em Minas
Gerais, os acidentes nas minas e envolvendo trens da empresa, cuja vítima
ou família não tem nenhuma assistência por parte da companhia; tudo
isso, ainda que não sejam mencionadas nas propagandas, são as marcas mais
fortes da Vale nos territórios em que ela atua. A extração nociva de bens
naturais, destruição dos patrimônios culturais, e os danos causados ao
meio ambiente são, em alguns casos, irreparáveis, e produzem danos
permanentes à vida.

A despeito dos visíveis danos, suas atividades continuam respaldadas com
investimentos e parcerias lucrativos. No Rio de Janeiro, por exemplo, com
a associação da Vale com a Thyssen Krupp, através da TKCSA, está previsto
um aumento de 12 vezes na emissão do poluente CO2 na cidade do Rio (O
Globo, 5/11/09). Além disso, a Vale é uma das principais empresas
consumidoras de energia, mas quase não paga por ela: a empresa paga menos
de R$ 5,00 por 100kwh, enquanto a população em geral, assim como pequenos
e médios comerciantes e indústrias, pagam mais de R$ 45,00kwh no Brasil.

Seus trabalhadores sofrem com demissões sem justificativa, com ausência de
medidas de segurança do trabalho e com pressões de diversas naturezas que,
muitas vezes, levam-nos ao suicídio. Dois em 100 trabalhadores foram
afastados por acidentes em 2008, 9 morreram. A cidade de Itabira (MG),
onde nasceu a Vale, tem o maior índice de suicídios do Brasil. É também
muito alta a terceirização do trabalho, que desresponsabiliza a companhia
e precariza as relações de emprego (dos 146 mil empregos, 83 mil são
indiretos).

A Vale tem usado a crise econômica mundial para pressionar os/as
trabalhadores em todo o mundo, reduzir salários, aumentar a jornada de
trabalho, demitir, e rebaixar direitos conquistados com anos de luta. A
greve iniciada pelos trabalhadores e trabalhadoras canadenses desde junho
de 2009 é um exemplo importante de luta e resistência contra a arrogância
e a intransigência da empresa, e, ao mesmo tempo, de construção da nossa
unidade internacional. A greve dos trabalhadores e trabalhadoras no Canadá
conta com todo o nosso apoio e solidariedade ativa para garantir sua
vitória!

A Vale usa as mesmas táticas com as populações em todo o mundo. Ela
pressiona, ameaça, coopta agentes públicos e locais, chegando até a fazer
uso de milícias e forças militares para garantir seus "investimentos". Em
muitos lugares, a empresa financia campanhas eleitorais, zoneamentos
ecológicos e planos diretores de municípios, numa completa inversão do
princípio da gestão política e governamental soberana dos interesses
públicos pela sociedade.

Os cidadãos e cidadãs comuns também são atingidos, uma vez que os recursos
públicos gerados pelos seus impostos são repassados para a Vale pelo BNDES
e outras agências estatais. Enquanto os impostos são altíssimos para a
população comum, e também pequenas e medias empresas, grande corporações
como a Vale recebem anos de isenção fiscal. Os serviços públicos para onde
deveriam ser direcionados os impostos, como hospitais e escolas, continuam
em péssimas condições. Assim, sua atuação aprofunda a dívida financeira,
ecológica e social com as populações atingidas. Cada centavo de dinheiro
público que é destinado à Vale poderia ser investido na criação de fontes
de trabalho que não prejudicassem a vida no planeta.

É com o objetivo de mudar este quadro que estamos organizando o encontro
internacional dos atingidos pela Vale. Nós iremos demonstrar com fatos
concretos e estudos de caso o que realmente vem acontecendo à população
que vive no entorno dos empreendimentos, e aos trabalhadores da Vale.
Nosso objetivo é dar voz àquelas pessoas que sofrem diariamente com a
atuação da mineradora, sejam comunidades próximas, desapropriadas ou áreas
em que a empresa busca se instalar, sejam os trabalhadores e trabalhadoras
da empresa.

Além de expor o comportamento agressivo da Vale, nós também iremos
trabalhar instrumentos e estratégias comuns para contestar seu poder
absoluto e fortalecer os trabalhadores e comunidades atingidas. Estes
instrumentos podem incluir acordos coletivos dos trabalhadores da Vale com
demandas em comum, monitoramento independente do impacto ambiental, monitoramento independente dos contratos governamentais sobre impostos,
royalties, entre outros.

A articulação dos povos e movimentos nos diferentes países em que há
exploração da mineradora é fundamental para fortalecer nossas lutas
locais, nacionais e internacionais. Precisamos nos unir para construirmos
juntos nossas estratégias, e pressionarmos nossos governos para que nossos
direitos de vida, trabalho, terra, moradia, saúde, e de um ambiente justo
e saudável sejam garantidos. E para que a Vale cumpra mundialmente com
padrões ambientais, tecnológicos e trabalhistas elevados, e que respeite e
não tente retroceder as legislações vigentes. Não vamos deixar que a Vale
rebaixe nossos direitos conquistados e destrua nossas vidas!

Os bens naturais e dos solos de cada país são patrimônio soberano dos
povos, não dos acionistas nacionais e internacionais da Vale!

O leilão de privatização da Vale foi ilegal. Nós exigimos a anulação deste
leilão, como disseram cerca de 4 milhões de brasileiros no Plebiscito
Popular sobre a privatização da Vale e a dívida pública realizado em 2007.
Nós defendemos a devolução ao povo brasileiro dos "direitos minerários"
não contabilizados na operação de venda, sua re-estatização e o seu
controle pelos trabalhadores!

Assim, convocamos as comunidades que atualmente sofrem com os grandes
empreendimentos mineradores, a sociedade civil, os trabalhadores e
trabalhadoras da Vale, movimentos e organizações sociais, pastorais
sociais, estudantes e professores para participar da construção desse
encontro, na expectativa de uma sociedade mais justa e ambientalmente
equilibrada.

Assinam:

Campanha Justiça nos Trilhos
Movimento pelas Serras e Águas de Minas
Comitê Mineiro dos Atingidos pela Vale
Conlutas
Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS)
Rede Justiça Social e Direitos Humanos
Rede Brasileira de Justiça Ambiental
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
ILAESE (Instituto Latino Americano de Estudos Sócio-Econômicos)
CEPASP Marabá (Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular)
Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos
Sociedade Paraense dos Direitos Humanos
Instituto Madeira Vivo
CPT nacional
Associação Paraense de Apóio às Comunidades Carentes
Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense/AMB
Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté - MACACA
Sindicato Metabase Inconfidentes - Congonhas
Sindicato Metabase - Itabira
Brigadas Populares (MG)
Justiça Global
Assembléia Popular Nacional
Jubileu Sul Brasil
Grito dos Excluídos - Brasil
Grito dos Excluídos Continental
Associação de Favelas de São José dos Campos/SP
IBASE
Consulta Popular
Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD)
Associação de Pescadores de Pedra de Guaratiba (AAPP)
APESCARI
Fé e Política - Sepetiba
Núcleo Socialista de Campo Grande (RJ)
Coletivo "A Baía de Sepetiba pede Socorro"
FASE/ Amazônia
Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos estados do
Maranhão, Pará e Tocantins (STEFEM)
SINDIMINA - RJ
CUT - Maranhão