quinta-feira, 24 de março de 2011

Trabalhadores e Trabalhadoras, uní-vos!

Carta aos trabalhadores formados em Filosofia, em Sociologia e em Educação Religiosa.


Em um trecho de “A viagem do Elefante”, Saramago parece fazer uma metáfora sobre o que acontece a muitos daqueles que se recusam a abandonar a luta.
Trata-se da
“história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, as arremetidas bruscas, as cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por um animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Respirou fundo e prosseguiu.
Ao fim dos doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais”.

É com este sentido que os trabalhadores e trabalhadoras da educação buscam fortalecer as lutas. Uma das formas que a Subsede de Juiz de Fora tem incentivado é a organização por área de atuação. O mais recente Núcleo criado em Juiz de Fora e Região é o de Filosofia, Sociologia e o de Educação Religiosa.
Aos 19 dias de março de 2011 reuniu-se o referido Núcleo com presença de 10 pessoas, três delas da atual Direção Regional do Sind-UTE, demonstrando, assim, total apoio às lutas específicas dos profissionais formados nessas áreas.
Os ecos da reunião já estão sendo ouvidos. Definiu-se buscar a valorização do profissional formado em filosofia e sociologia, bem como exigir que o Estado de Minas Gerais promova ou credencie Cursos de formação na área de Educação Religiosa. Atualmente, Educação Religiosa faz parte do componente curricular, mas contraditoriamente, o Estado de Minas Gerais não promoveu nenhum curso ou habilitou nenhum profissional após 2005.
Exigimos também que Filosofia e Sociologia sejam lecionadas por professores formados em Filosofia e Ciências Sociais, respectivamente. Para isso, assumimos:
·                            Realização de um Seminário sobre a Educação Religiosa em Minas Gerais;
·                            Desenvolver uma Campanha pela valorização do Ensino e dos profissionais das áreas de Filosofia, Sociologia e Educação Religiosa;
·                            Confecção de cartazes, panfletos, postais, adesivos etc para defendermos nossas lutas (Você deixaria alguém sem habilitação guiar a educação de seus filhos? O Governo de Minas Gerais sim.);
·                            Exigir que o Estado de Minas Gerais inclua no Edital do Concurso Público vagas para Filosofia, Sociologia e Educação Religiosa;
·                            Enviar ao Conselho Nacional de Educação uma denúncia/consulta solicitando dele um posicionamento acerca do exposto;
·                            Realizar coleta de Abaixo-assinado exigindo que o Governador do Estado de Minas Gerais impeça que tal procedimento continue, sob pena de ferir vários Princípios Constitucionais, prejudicando a qualidade do Ensino de tais disciplinas;
·                            Acionar o Ministério Público ao entregarmos as listagens com as assinaturas do Abaixo-assinado;
·                            Contatar as Escolas de Formação em Filosofia e em Ciências Sociais, bem como os Diretórios e Centros Acadêmicos de tais áreas para manifestarem apoio à luta que a partir de agora empreendemos.

Estamos cientes que a nossa luta só terá resultados efetivos se nos empenharmos para fazer acontecer o que desejamos e sonhamos. Não somos contrários aos nossos colegas que, segundo várias inspetoras, tiveram que assumir aulas para as quais não foram habilitadas. Sabemos que isso está em desacordo com a qualidade do ensino, bem como configura assédio moral conforme o artigo 3º Parágrafo 1º Inciso IV da Lei Complementar nº 116 de 11 de janeiro de 2011, assinada inclusive, pelo Governador de Estado, o senhor Antônio Anastasia.
Leia a texto da referida Lei:

“IV – atribuir, de modo freqüente, ao agente público, função incompatível com sua formação acadêmica ou técnica especializada ou que dependa de treinamento;”
Reafirmamos o nosso papel em defesa da Escola Pública e a ela devemos caminhar cada vez mais na forma de coletivo, sem o qual, estaremos fadados ao fracasso ou à cooptação. Do mesmo modo que ousamos realizar uma greve de 48 dias em 2010, ousamos entrar em mais essa luta para defender a Educação Pública e a dignidade de trabalhadores e trabalhadoras da educação.
Que esta carta seja lida, discutido o seu conteúdo e divulgada a todos e a todas que buscam dias melhores para a Educação Pública em Minas Gerais e no Brasil.


Juiz de Fora, 19 de março de 2011.



 Núcleo de Filosofia, Sociologia e Educação Religiosa

Fazemos memória dos Mártires da Caminhada e por isso lançamos a Agenda Latinoamericana.