domingo, 14 de outubro de 2012

Dicas de como montar um estúdio de ensaio


Não é de hoje que recebemos muitas sugestões de matérias como essa. Preparamos uma matéria especial, com dicas de como montar uma sala de ensaio. Desde um padrão mais básico a um estúdio mais refinado. Provavelmente, muitos dos internautas são músicos ou quem sabe serão? Hoje em dia, a grande maioria ensaia em estúdios alugados e quem já não fez as contas de quanto já gastou por semana, por mês e por ano?

Montar um estúdio de ensaio é sonho para alguns e pesadelo para outros, por isso, o importante é saber escolher bem o local, pesquisar bem o lado técnico e ter muita paciência. Em termos financeiros, não sai barato montar uma sala. Muito pelo contrário, pode ir preparando o bolso, mas o estúdio pode ser montado e melhorado aos poucos, conforme a necessidade e disponibilidade de verbas. Montar sozinho é oneroso, mas rachar a despesa também tem suas desvantagens. Imagine se a banda acabar, ou ter que pagar a parte do integrante que saiu, ou ficar sem o determinado equipamento? São questões a serem resolvidas. Abaixo estão algumas observações para a montagem de um estúdio para ensaios. Boa leitura e mãos à obra!

Tamanho da sala

Inicialmente vamos para a escolha do local. Para quem mora em casa, a opção mais tentadora seria uma sala vaga, uma garagem ou um porão. O tamanho da sala é importante para acomodar todo o equipamento e os músicos. Uma sala de 4 metros quadrados, por exemplo, é apertada para uma banda com 5 integrantes (vocalista, guitarrista, baixista, tecladista e baterista). Quem vai ocupar mais espaço na sala é o baterista. Se for um set-up grande com 2 bumbos, vários tons, muitos stands com pratos e um set de percussão. 

Pode reservar metade da sala só para a bateria. O restante da sala ainda terá que acomodar amplificadores, efeitos, mesa de som, caixas, pedestais, instrumentos e músicos. Visitas e penetras, nem pensar? Caso não haja opção e ter disponível apenas uma sala bem pequena, tipo 2 metros quadrados ou menos, não é impossível, mas só funciona para bandas com poucos integrantes e um set-up de equipamentos bem básicos. Logicamente que uma sala de tamanho bem maior é desejável e será muito mais legal para acomodar tudo. Numa sala pequena, talvez seja necessário desmontar a bateria ou todo o equipamento. Numa sala maior, tudo pode ficar sempre montado e ser utilizado a qualquer momento.



Local ideal

Na escolha da sala, vale o bom senso. Geralmente, as salas ou quartos disponíveis estão localizados em pontos extremos da casa ou num porão. No caso de ser um sótão, a chance do som vazar para fora é bem maior. O mesmo vale para o andar superior de um sobrado. Já, o porão é um bom lugar, melhor ainda se cercado de terra nas laterais. A preocupação é não fazer com que o som suba, ou seja, um bom isolamento no teto pode resolver.

A garagem é um local legendário, se for espaçoso vai caber o carro e o equipamento montado. Se for uma garagem pequena será necessário sempre desmontar e guardar as coisas. Normalmente, a porta da garagem é um ponto de dificuldade para fazer o isolamento acústico.

Antes de começar a isolar acusticamente a sala, cheque a fiação elétrica e instale várias tomadas em pontos diferentes. Peça para um eletricista instalar um fio terra para o estúdio e deixe o ambiente sempre bem iluminado. Apartamento? Difícil de imaginar, mas no Japão muita gente ensaia em um deles. Basta eliminar a bateria acústica por uma eletrônica, uma mesa de som com vários canais, periféricos, simuladores de amplificadores e um monte de fones de ouvido. Para o vocal, improvisamos uma cabine fechada utilizando biombos, colchões e cobertores e o vocalista pode cantar com microfone e abrir o gogó.



Isolamento acústico 

Tratando-se de um estúdio de ensaio, a preocupação é para que o som não "vaze" para fora da sala. Desta forma, o ambiente deve estar bem vedado e com bom isolamento interno para não deixar o som transpassar para fora. Normalmente transformamos a sala num estúdio morto, ou seja, revestido com materiais que absorvem o som. Isso significa em perda de certas qualidades de som, principalmente pela sala estar absorvendo frequências importantes, mas o ensaio serve mais para elaborar e estruturar as músicas. A preocupação com timbre será mais adequada no momento de gravar. Mas, ai é outro estúdio e outra história...

Os estúdios profissionais têm paredes duplas e grossas de concreto com material isolante (lã de vidro ou lã de rocha) colocado entre as paredes. Numa sala relativamente espaçosa, podemos fazer a mesma coisa, utilizando chapas de madeira compensada de espessura grossa, ou com placas de gesso. 

A ideia seria duplicar as paredes originais da sala, posicionando as chapas em torno de 10 centímetros das paredes originais e preencher os espaços com a manta isolante. Essa distância, minimiza o punch das frequências baixas. A desvantagem do uso da madeira é com relação às mudanças bruscas das condições do meio ambiente e os cupins. Existe um isolante acústico também desenvolvido com material de eucatex, com boa aceitação no mercado. 

O ideal seria levantar novas paredes com placas de concreto pré-fabricado ou gesso, mas isso só vale para quem quer investir pesado um estúdio profissional. No chão, convém a colocação de uma forração, um carpete ou um tapete grosso. No teto, podemos fazer um forro de gesso adotamos o mesmo padrão utilizado nas paredes laterais. De modo geral podemos dizer que seria como criar uma sala dentro da própria sala principal.

No quarto simples de sua casa, na garagem ou no porão e na impossibilidade de duplicar as paredes, escolha uma espuma isolante bem mais grossa. Coloque placas de isopor ou um revestimento de cortiça, entre a parede e a espuma. No teto, dependendo da quantidade de som que esteja "vazando", talvez seja necessário fazer a mesma vedação.



Espumas

Uma das mais conhecidas e utilizadas, é do tipo Sonex de poliuretano. Visualmente causa um bom impacto. Funciona bem para isolamento acústico sendo produzida em vários padrões de tamanho e texturas. O custo é alto, algumas empresas nacionais fabricam e distribuem esse tipo de espuma. Outras empresas fabricam similares com a mesma qualidade.



Caixas de ovos

Muitos utilizam as famosas "caixas de ovos" para forrar a sala. Não deixa de ser uma opção de baixo custo, mas é necessário colocar alguma forração ou material entre a parede e as caixas. O poder de absorção sonora dessas "caixas" é baixo, não recomendo.



Alternativas 

Imagine duas estantes de madeira do tamanho da parede, recheadas de livros. É uma boa alternativa para ajudar a isolar o ambiente, não vai funcionar de modo eficiente, mas é uma alternativa interessante no caso de aproveitamento de um local que não precise ser tão isolado.


   
Janelas e portas

Janelas provocam vazamento e a solução mais correta é o vidro anti-ruído ou encomendar um vidro bem grosso, de preferência, que seja temperado. O custo do vidro anti-ruído é alto, mas funciona muito bem. As janelas sempre deverão estar fechadas durante os ensaios, e isso significa em má circulação de ar. Ou seja, um ar condicionado será necessário, para evitar que a sala vire um forno ou uma sauna.

Portas devem estar reforçadas com placas adicionais de madeira ou com placas de celerom. Os vãos e frestas devem estar preenchidos com espuma de densidade alta e não esqueça de colocar uma tranca bem confiável na porta. O mais correto seria fazer uma porta com placas duplas bem grossas e rechear com manta isolante, ai, nem fantasma entra. Já, a porta da garagem deverá ser revestida com uma borracha grossa, espuma ou madeira. Se for uma porta metálica similar às usadas em estabelecimentos comerciais, o jeito será trocá-la e adaptar um outro tipo de porta.



Equipamentos 


Vocal

- Módulo de potência que seja o suficiente para deixar o vocal sempre com o timbre limpo.
- Mesa de som com vários canais, conexões e alimentação própria.
- Efeitos: compressor, delay e reverb.
- Microfone dinâmico cardióide.
- Pedestal e suportes.

Guitarras 

- Amplificadores padrões do tipo combo ou stack (cabeçote e caixas separadas), com potência de 50 a 200 watts.

Baixo

- Amplificador específico de médio e grande porte.

Teclados

- Stand para o teclado.
- Amplificador específico, ou conectar o teclado na mesa de som.

Bateria

- Set-up básico e peças de reposição.

Outros

- Cabos, plugs, stands para instrumentos e ferramentas de manutenção.


Quanto ao equipamento, a sala poderá estar vazia e cada músico estará trazendo e montado seu próprio set-up. Isso consome algum tempo, principalmente a bateria, mas é perfeitamente normal. Já, para quem quer ter as coisas no lugar e não ter o trabalho de ficar montando e desmontando, vale a pena investir. Principalmente, se a banda ensaia bastante.

Hoje em dia, toda a pré-produção das bandas ocorre no ensaio. Poder dispor de um espaço próprio para ensaiar sem pressão ou sem tempo limitado, é bem legal. Caso decida seriamente em montar um local para ensaiar, pesquise bastante e procure ajuda profissional.  Bons ensaios e até a próxima.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Começa a nascer a Walberberg 2012.

Produzir cerveja requer três processos básicos: mostura, fervura e fermentação. Os dois primeiros geralmente ocorrem no mesmo dia. Já a fermentação dura de uma a algumas semanas. A seguir, uma descrição resumida de cada processo.

MOSTURA

Este processo, que dura de 2 a 5 horas, extrai os açúcares fermentáveis e outros componentes importantes do malte. Primeiro o malte é moído, depois misturado à água quente, permanecendo a uma temperatura de aproximadamente 65ºC. Depois disso, a água rica em açúcares (agora chamada de MOSTO) é retirada e o que restou do malte moído é lavado com água quente para extrair o máximo possível dos açúcares que restaram.

FERVURA

O mosto é fervido na caldeira de fervura, normalmente de 1 a 2 horas. Durante a fervura, o lúpulo é adicionado em momentos variados, com a finalidade de conferir amargor, paladar e aroma que o cervejeiro deseja. No final da fervura, o mosto é separado do lúpulo e resfriado, sendo preparado para a fermentação.

FERMENTAÇÃO

O fermento é adicionado ao mosto para iniciar a fermentação e transformá-la em cerveja. As fermentações “Ale” (de alta fermentação) duram de 5 a 10 dias a temperaturas de 16 a 21ºC. As fermentações “Lager” (de baixa fermentação) geralmente são mais longas, com uma fermentação inicial de 10 a 13ºC, seguida de um período de maturação a 1ºC. No final da fermentação, a cerveja é carbonatada e envasada.

É claro que há inúmeros processos de fazer cerveja. A fermentação natural, a carbonatação natural, a adição de outros "temperos" além do lúpulo, a quantidade e o tipo de ingredientes, cada um para um tipo específico de cerveja etc. Todavia, o roteiro resumido acima dá uma boa idéia inicial da “espinha dorsal” da produção do nobre líquido criado no Egito dos Faraós.


Passo-a-passo detalhado do processo de fabricação de cerveja

1.O cervejeiro combina vários tipos de grãos de malte de cevada, de acordo com a sua receita.

2.O malte de cevada é rachado e aberto com a ajuda de um moedor, expondo amidos solúveis.

3.O malte é levado a um recipiente e uma reacção enzimática provocada pela adição de água quente converte amidos solúveis em açúcares fermentáveis.

4.As cascas dos grãos usados são separados do mosto através de um método simples de filtragem através da utilização de um fundo falso em um novo recipiente, onde a cerveja será despejada.

5.O mosto é aquecido a uma temperatura de fervura específica (de 65º a 68º), também respeitando a receita escolhida. Os lúpulos de amargos são adicionados no início da fervura, os de aroma são adicionados no final.

6.Um redemoinho separa o mosto das proteínas sólidas presentes no líquido.

7.O mosto deve ser rapidamente resfriado para a temperatura de fermentação adequada, através de um trocador de calor com o qual é colocado em contato.

8.A levedura é colocada no tanque de fermentação para converter açúcares no mosto em álcool e dióxido de carbono (gás da cerveja).

9.Recém fermentada, a cerveja é freqüentemente resfriada durante o processo de condicionamento.

10.Algumas cervejas são filtradas para remover as proteínas sólidas.

11.A cerveja filtrada é transferida para outro tanque, de onde partirá para o envasamento.

12.Uma filtragem estéril opcional ou a pasteurização neutraliza qualquer levedura viva na cerveja antes do envase.

13.As garrafas são preenchidas em uma linha de engarrafamento.

14.A cerveja é enviada aos atacadistas, que a distribuem para as lojas e finalmente chega até os consumidores.

15.Uma boa cerveja não pode ser feita com água cujo uso de cloro seja frequente, pois o cloro interfere na qualidade da fermentação de nossa cerveja artesanal.

16.A nossa Walberberg 2012 está começando a nascer. Um projeto de longo prazo para atender uma curiosidade e um prazer de acolher amizades para um sadio bate papo.

Aguardem as novidades. Abraço

sexta-feira, 9 de março de 2012

Walber na Rádio Solar AM 1010.

http://www.radiosolaram.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14074:manifestantes-ocupam-sede-da-superintendencia-regional-de-ensino-ouca&catid=2:noticias&Itemid=3

ENQUANTO O GOVERNO SE MOSTRA IRREDUTÍVEL EM NÃO CUMPRIR A CONSTITUIÇÃO E A LEI, NÓS...

Por Walber Meirelles Ladeira*



O Governo de Minas Gerais, sob o comando de Antônio Anastasia do PSDB, se mostrou irredutível desde o início das negociações em março/abril de 2011. Muitas tentativas foram feitas para que o impasse fosse solucionado e nenhum sinal foi dado por parte do governo tucano.

Lembremo-nos da greve de 2010. Contrariado, o governador enviou à Assembleia Legislativa de Minas Gerais a tentativa de destruição de nossa carreira que é o projeto de lei sobre o subsídio. Naquele momento, a ALMG já se mostrava fiel depositária dos interesses do executivo mineiro. A sua maioria esmagadora já fazia coro e aprovava a lei que destruia o já precário Plano de Carreira do magistério mineiro.

Tão grave como a subserviência do legislativo mineiro aos interesses de classe e ao executivo tucano, foi a propalada decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais de inconstitucionalidade da greve àquela época, obrigando o Sind-UTE/MG a pagar multa de R$30.000,00 (trinta mil reais) por dia não trabalhado.

Hoje o TJMG se mostra acima da Constituição Federal e autoriza a substituição de professores do 3º ano médio regular e dos 2º e 3º anos EJA médio. Os artigos 7º, 8º e 9º da CF/1988 foram desconsiderados sob a alegação da razoabilidade do interesse público.

Os desembargadores que julgaram as mais recentes decisões são ligados ao poder. Um deles é aparentado ao ex-governador Aécio Neves e o outro faz parte da família Andrada. Alguém tinha dúvida qual seria a decisão?

Mais uma vez, a classe dirigente elabora o controle dos cargos de direção. São eles que se indicam e se julgam. Para quem ainda não sabe, é o governador de Estado o responsável pela indicação para o Tribunal de Justiça, assim como é o presidente da república quem indica para o Supremo Tribunal Federal. Deputados indicam seus afilhados para cargos nos governos e a estes se submetem por tamanha relação promíscua.

É fato que o número de trabalhadores em greve chegou a um limite que não se amplia. Avalio que é sintomático o grande número de trabalhadores e trabalhadoras que solicitaram férias prêmio. Isso representa que os educadores estão cansados e muitos, inclusive arrependidos, pela escolha da profissão que não dá garantias a quem se dedicou anos a fio a uma carreira precarizada ao longo do tempo.

Demonstra o quanto de descrético dos governos à educação pública. Com um número elevado de profissionais em férias prêmio, cuja sua maioria é composta de potenciais grevistas, seriam outros os números da greve caso tais profissionais não estivessem gozando as merecidas férias. Já os atuais designados, em quase sua totalidade se mostram indiferentes ao movimento grevista.

Mais uma reflexão: o número de contratados é maior que o número de efetivos/efetivados? É evidente que muitos colegas efetivos ou efetivados também agem como se designados fossem. Na verdade, a baixa consciência de sujeitos históricos fazem deles presas fáceis de direções sedutoras, cujas práticas corriqueiras são as dos acordos espúrios.

As contradições são muitas. Em nossa categoria, muitos trabalham em outras redes, sejam elas particulares, estaduais ou municipais. Em algumas delas foram deflagradas greves e aí pasmem, prezados leitores, alguns colegas de trabalho decidiram que em uma faria greve e no Estado de Minas Gerais permaneceriam trabalhando.

Há casos de colegas que estão parados na rede municipal de Juiz de Fora e na rede estadual de MG continuam sem fazer um dia de greve! A justificativa é quase sempre a mesma: "Tenho que pagar o financiamento." O crédito veio para produzir uma nova sociabilidade!

Muitos não participam das Assembleias, dos debates sobre os rumos da educação pública, das atividades propostas pela direção do Sind-UTE Subsede Juiz de Fora ou da direção estadual. Parte não é filiada ao sindicato. Alguns, inclusive, vangloriam de suas virgindades à greve! Uma total falta de consciência política ou uma rebaixada crença nas liberdades individuais como princípio único de todas as coisas.

Oportunistas querem participar do bônus, nunca do ônus do movimento. Infelizmente, em nossa categoria, a chegada de perfis desse nível tem diminuído a consciência coletiva e a força de pressão política, dada a precária formação de alguns.

A greve se mostra fortalecida, mesmo que os números não sejam amplos, com uma vanguarda determinada para defender direitos, inclusive daqueles que se arvoram em dizer: "Graças a Deus eu nunca fiz greve e nunca vou fazer. Vocês sabiam quanto iriam receber, então por que estão em greve?" (Declaração de uma pretendende a designação de um cargo, cujo professor estava em greve na Escola Estadual Batista de Oliveira, em Juiz de Fora).

Nós já estamos vivendo a barbárie! É preciso responder a isso, antes que seja tarde demais. E assim vive o mundo precário da educação em Minas Gerais. Alguém discorda?

* Walber Meirelles Ladeira é membro da direção do Sind-UTE Subsede Juiz de Fora. Professor da Rede Estadual de MG, formado em Ciências Sociais pela UFJF. Especialista em Ciência da Religião pela UFJF e em Direitos Humanos pela PUC-Goiás.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Gerar vida e gerar morte

por Ivone Gebara*



Espanta-me a facilidade com que alguns clérigos e bispos afirmam poder distinguir com clareza as forças que geram vida e as que geram morte. Discorrem como se estivessem num campo de certezas. Nem percebem que o próprio uso dessas duas palavras, principalmente nos seus discursos acalorados sobre a importância de escolhermos a vida, conduz quase necessariamente a defender armadilhas de morte e provocar formas sutis de violência. O que é vida? O que é morte? É possível que a morte se sustente fora da vida e a vida fora da morte? Não somos nós vida e morte ao mesmo tempo? Não somos sempre aprendizes, caminhando trôpegos, dando um passo depois do outro nas escolhas diárias que tentamos fazer?

Faz algum tempo que a Igreja Católica no Brasil vem desenvolvendo uma linha equivoca de defesa da vida. Quando falam da defesa da vida reduzem o termovida à vida do feto humano e, assegurados da vida do feto, esquecem-se de todos os outros aspectos e personagens reais da complexa teia da vida. Fico me perguntando de novo porque insistem nesse erro e nesse limite lógico, condenado também de muitas maneiras pelos muitos filósofos e teólogos da Tradição Cristã. Distanciam-se até das últimas reflexões de Bento XVI que, com justeza, discorre sobre a complexidade da vida no universo, incluindo-se a vida humana.

Espanta-me constatar mais uma vez a pouca formação filosófica e teológica de parte do episcopado e de muitos clérigos que se arvoram a defender a vida, mas atiram pedras em pessoas que consideram “mal-amadas” só por defenderem um ideário diferente do seu. Por que “mal-amada” ou “mal-amado” seria uma forma de menosprezar ou diminuir as pessoas? O que de fato querem dizer com isso?

Não somos todos nós necessitados de amor? Não é o amor a missão cristã? Não é para os desprezados, esquecidos e mal-amados que o Cristianismo diz manter sua missão a exemplo de Jesus? É desconcertante perceber que usam expressões desse tipo e instrumentalizam a mensagem cristã para afirmar desacordos de posições, como o fez D. Benedito Simão, bispo de Assis e Presidente da Comissão pela vida da Regional sul I da CNBB. Em entrevista ao Grupo Estado de São Paulo, na semana passada, por ocasião da escolha da Professora e Doutora Eleonora Menicucci como ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, o referido bispo classificou a nova ministra de “mal-amada” e, com isso, desrespeitou-a e incitou ao desrespeito e à falta de diálogo em relação à responsabilidade pública de enfrentar os sérios problemas sociais.

Seria o bispo então um privilegiado “bem-amado”? A partir de que critérios?

O desrespeito às histórias e escolhas pessoais, às muitas dores e razões de muitas mulheres torna-se moeda corrente em muitas Igrejas cristãs que se armam para uma chamada “guerra santa”, sem a preocupação de aproximar-se das pessoas envolvidas em situações de desespero. Usam sua autoridade junto ao povo para gritar palavras de ordem e, em nome de seu deus, confundir as mentes e os corações.

Perdeu-se a civilidade. Perdeu-se o desejo de consagração à sabedoria e ao bom senso. Perdeu-se a escuta aos acontecimentos e à aproximação respeitosa das dores alheias. Apenas se responde a partir de PRINCÍPIOS e de pretensa autoridade. Mas o que são os princípios fora da vida cotidiana das pessoas de carne e osso? Qual é o teto dos princípios? Quem os estabelece? Onde vivem eles? Como se conjugam nas diferentes situações da vida? O convite ao pensamento se faz absolutamente necessário quando as trevas da ignorância obscurecem as mentes e os corações.

Nesse momento crítico de descrença em relação a muitos valores humanos, as atitudes policialescas de um ou mais bispos, de clérigos e pastores assim como de alguns fiéis nos apavoram. A ignorância das próprias fontes do Evangelho e a instrumentalização da fé dos mais simples nos espantam. A democracia real está em risco. A liberdade está ameaçada pelo obscurantismo religioso.

De nada servem palavras como diálogo, escuta, conversão, solidariedade, respeito à vida quando, na prática, é a violência e a defesa de idéias pré-concebidas que parecem nortear alguns comportamentos religiosos públicos. Seguem esquecendo que não se deve tomar Deus em vão. Não apenas seu nome, pois isso já o fazem. Tomar Deus em vão é tomar as criaturas em vão, selecionando-as, desrespeitando-as e julgando-as de antemão. Nós todas/os temos palhas e traves em nossos olhos e eu sou a primeira. Por isso, cada pessoa ou grupo apenas consegue ver algo da realidade, que é sempre maior do que nós.

Entretanto, se quisermos enxergar um pouco mais, somos convidadas a nos aproximar de forma desarmada dos outros. Somos desafiadas a ouvir, olhar, sentir, acolher, perguntar, conversar como se o corpo do outro ou da outra pudesse ser meu próprio corpo, como se os olhos e ouvidos dos outros pudessem completar minha visão e audição. E mais, como se as dores alheias pudessem ser de fato minhas próprias dores e suas histórias de vida, minhas mestras. Só assim poderemos ter um pouco de autoridade com dignidade. Só assim nossa belas palavras não serão ocas. E, talvez, nessa abertura a cada dia renovada, poderemos acreditar na necessidade vital de carregar os fardos uns dos outros e esperar que a fraternidade e a sororidade sejam possíveis em nossas relações.


* Ivone Gebara é doutora em Filosofia e em Ciências Religosas. Integra o Conselho Consultivo de Católicas pelo Direito de Decidir. Escrito em fevereiro de 2012.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A corrida para a Universidade: resposta a um estudante.

Walber Meirelles Ladeira*



O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é um conjunto de questões (180 no total) de todo o conteúdo do Ensino Médio (o antigo 2º grau). Uma redação também é aplicada. Você pode fazer o ENEM caso já tenha o ensino médio ou ainda não o tenha concluído, neste caso, conforme as suas notas, no ato da inscrição você pode pleitear o uso delas para a conclusão do referido ensino médio. Caso você já tenha concluído, isso não será necessário, basta fazê-lo para entrar em uma das vagas em Universidades Públicas Federais/Institutos Federais - através do SISU (Sistema de Seleção Unificada) ou participando do programa PROUNI (Programa Universidade Para Todos) este para quem não passou em Universidade Pública e ainda não cursou um curso superior.

Várias Universidades Públicas Federais têm usado as notas do ENEM como forma de entrada em seu vestibular. A UFJF até o vestibular 2011 usou as notas do ENEM como acesso à primeira fase do vestibular e aplicando provas abertas nas respectivas áreas de conhecimento como 2ª fase. A UFJF ainda usou o critério de classificar os três primeiros candidatos ao vestibular para ter suas provas da segunda fase corrigidas. Mas isso irá mudar para esse ano de 2012. Os responsáveis pelo vestibular da UFJF já manifestaram que no próximo vestibular, a UFJF utilizará somente as notas do ENEM como critério único de classificação.

As inscrições do ENEM podem mudar de data e, portanto, não tenho tais informações (geralmente acontece em setembro, mas isso pode mudar.). Depois do resultado, você pode se inscrever no SISU e pleitear uma vaga nas Universidades Federais que aderirem ao Programa. Cada universidade pública tem a sua política afirmativa e isso influenciará com pesos diferenciados para cada nota do ENEM. Uma Universidade pode dar n pontos a candidatos que se declaram negros ou indígenas. Podem ainda atribuir pontos a quem estudou o ensino fundamental (o antigo 1º grau) em escolas públicas.

A UFJF possibilita o acesso ao vestibular em três grupos distintos: Grupo A = Estudantes que se declaram negros ou indígenas; Grupo B = Estudantes que estudaram todo o ensino fundamental e médio em escola pública (municipal, estadual ou federal) e Grupo C = Estudantes de Escolas particulares. Uma dica para você: procure se informar com mais detalhes nos endereços eletrônicos a seguir: http://sisu.mec.gov.br/sisu ou http://siteprouni.mec.gov.br/

Além disso, caro estudante, fique atento às mudanças que serão implantadas em 2012 com, inclusive, mudanças de datas para a realização das provas e inscrições. Busque realizar uma boa prova e uma boa redação, sem as quais sua chance diminuirá para a entrada em alguns cursos.

Saiba que o ENEM foi alvo de várias reclamações e ações judiciais por conta das falhas e, inclusive das notas baixas em redações e da "Teoria de Resposta ao Item", método usado para a correção das avaliações e da atribuição das notas diferenciadas para cada questão.

Espero que você leia jornais e leia bastante, o que contribuirá para que você tenha os conhecimentos necessários para a realização de uma boa prova. Muitas questões estimulam o raciocínio lógico e, em alguns casos, uma lida bem atenta solucionará as questões. Mantenha a calma para responder as 180 questões, além da paciência necessária para elaborar também uma redação. No primeiro dia são 90 questões com 4 h 30 minutos de duração. No segundo, 90 questões e a redação tendo 5 h para a realização das mesmas. Estarei aqui e caso ainda persistam dúvidas, poderei ajudá-lo naquilo que tiver competência.


* É formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Pós-graduado em Ciências da Religião (UFJF) e em Direitos Humanos (PUC – Pontifícia Universidade Católica de Goiás). É professor e pesquisador. Ex-frade dominicano. É membro da Comissão Justiça e Paz – Arquidiocese de Juiz de Fora. Membro co-fundador do Fórum Municipal de Defesa dos Direitos Humanos – Juiz de Fora. Membro da Direção do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais – Subsede Juiz de Fora. E-mail: walbermladeira@ig.com.br twitter: @walbermladeira blog: http://walbermladeira.blogspot.com/

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sobre o bairro Pinheirinho: não, não há mais juízes em Berlim.

Por Francisco Mata Machado Tavares, professor universitário, bacharel em direito, mestre e doutorando em ciência política.

O fato é tão simples como estarrecedor. 9.600 (nove mil e seiscentas) pessoas vivem, há 8 (oito) anos, em um bairro da cidade de São José dos Campos conhecido como Pinheirinho. Estas pessoas são, todas, cidadãs de uma República cuja constituição, em seu artigo 6o, assegura, dentre outros, o direito fundamental à moradia, entendido como cláusula pétrea, ou seja, como garantia insusceptível de redução, senão mediante um golpe de Estado.

O terreno habitado por esses seres humanos não cumpria, até que eles ali chegassem, a sua função social. A mesma Constituição da República, em seu artigo 5o, também definido como cláusula que não se altera, condiciona a validade normativa do direito de propriedade ao cumprimento da respectiva função social. É majoritária, entre os constitucionalistas, a tese de que a referida dimensão funcional do direito à propriedade não se configura como limite (a exemplo dos direitos de vizinhança, servidões obrigatórias, etc.), mas como componente deontológica da situação proprietária. Em suma: sem obediência à função social, não há direito de propriedade válido neste país.

A massa falida de uma empresa chamada Selecta, cuja propriedade fora de um nababo detido em duas ocasiões por crimes de ordem fiscal e financeira, ostenta documentos que, formalmente, indicariam sua propriedade sobre o terreno onde as milhares de pessoas acima referidas possuem as as respectivas moradias há quase um decênio. Ao solene arrepio do aspecto funcional do direito à propriedade privada, o Poder Judiciário do Estado de São Paulo optou por negar às famílias seu local de habitação, em favor da pessoa jurídica que, possivelmente, continuaria a manter, ali, um grande espaço vazio, transpondo a materialidade de uma vila com gente, comércio, igreja e histórias humanas em frio ativo que valorizaria o patrimônio de alguém, ao sabor das inexoráveis pressões inflacionárias do mercado imobiliário, definido pela inelasticidade da oferta. Em síntese: o Poder Judiciário malferiu dois artigos asseguradores de direitos fundamentais da Constituição (quinto e sexto), para expulsar pessoas humanas do seus lares, de modo a garantir que milionários aumentassem seus patrimônios. A prefeitura do município de São José dos Campos, assim como o Governo do Estado de São Paulo, endossaram tal prática.

Os moradores do bairro do Pinheirinho resistiram e, como resultado de sua abnegada luta, conquistaram, dentre outras vitórias, o interesse da União em considerar a desapropriação do terreno e, subsequentemente, implementar um projeto habitacional no local, política pública que contaria, dentre outras medidas, com a regularização fundiária da ocupação. Em suma, o Governo Federal, devidamente pressionado por ativistas e pela sociedade civil, acenou com a possibilidade de cumprir parte de suas obrigações prescritas no artigo 3o, inciso III, do Estatuto das Cidades, no que não fora acompanhado, lamentavelmente, pelos governos do Estado e do Município, os quais optaram por permanecer na ilegalidade.

De qualquer modo, tendo em vista o interesse jurídico da União na conflituosa questão, haja vista a necessidade de cumprimento do já citado artigo do Estatuto das Cidades, fez-se necessária a inclusão da Advocacia Geral da União - AGU no processo judicial e, por conseguinte, em respeito ao artigo 109 da Constituição, o deslocamento do feito para a Justiça Federal. Como consequência do desaforamento do processo em relação à Justiça Estadual de São Paulo, o Tribunal Regional Federal, órgão da Justiça Federal de 2a Instância, impôs a suspensão da ilegal determinação de despejo das 9,6 mil pessoas humanas que habitam o Pinheirinho, de modo a subtrair eficácia e validade de qualquer decisão sobre a matéria proferida no âmbito da justiça comum.

Ocorre, todavia, que não há juízes nesta Berlim proto-nazista sob a qual vivem os brasileiros do século XXI. Uma decisão judicial estadual de 1a Instância determinou que, em 22 de janeiro de 2012, as 9,6 mil pessoas fossem subtraídas do seu direito fundamental à moradia, em favor de uma massa falida que pretende manter o imóvel vazio, à espera de valorização ociosa incompatível com o princípio da função social da propriedade. É preciso que a situação fique bem clara: uma decisão judicial de 1a instância transgrediu um despacho da Justiça Federal de 2a instância e, ato contínuo, foi devidamente obedecida pelo Governo de São Paulo e sua Polícia Militar. Tudo para que quase 10 mil pessoas fossem, como ratos, jogadas nas ruas, sem destino, sem dignidade, sem direito a nada.

Mas a tragédia é ainda pior. O advogado das famílias despejadas foi ilegalmente detido. Um Senador da República (Eduardo Suplicy – PT/SP), um Deputado Federal (Ivan Valente – PSOL/SP) e um presidente de partido (Zé Maria de Almeida – PSTU/SP), foram ilegalmente sitiados em uma escola localizada nas proximidades do Bairro Pinheirinho e, dali, impedidos de sair, em clara situação de prisão ilegal. E, até aqui, início da tarde de 22 de janeiro, há relatos (ainda sujeitos à devida confirmação) de que houve vítimas fatais. A se confirmar tão trágica notícia, tratam-se de histórias de vida interrompidas pela ação bárbara de um Estado que não atua mais próximo da legalidade do que qualquer bando ou quadrilha. O certo é que pessoas foram retiradas de seus lares por bandidos perigosos, armados, sustentados por impostos adimplidos por todos os cidadãos e que atuam ao arrepio da Lei, tal como concretamente prescrita pelo Tribunal Regional Federal da 3a Região. Sem respaldo normativo, sem qualquer direito, sem nenhuma adequação à legalidade, como qualquer milícia ou grupo do crime organizado, o assim-chamado Poder Público irrompe contra uma válida decisão do Tribunal Regional Federal, aprisiona parlamentares, detém advogados (ao arrepio do artigo 7o da Lei 8.906) e impõe a barbárie, a selvageria e o terror contra 9,6 mil pessoas humanas que queriam apenas viver sob um teto e contar com um lugar para voltar, após extenuantes jornadas de trabalho. É a violência pura e sem discurso de justificação qualquer... Um horror de tão monta nefasto, que só pode ser comparado aos mais virulentos atos do nazi-fascismo no Século XX.

Não se sabe o destino das famílias. Não se sabe quantas pessoas estão mortas e feridas neste momento. Sabe-se que a decisão de desocupação foi flagrantemente ilegal, bem como que a truculência militar e as detenções de líderes, parlamentares e advogados demonstram o caráter político-golpista do ocorrido. Certamente, as autoridades responsáveis por tamanha atrocidade não serão responsabilizadas. Possivelmente, além de desabrigados e humilhados em sua dignidades, muitos dos cidadãos hoje expulsos ilegalmente de suas moradias serão alvo de ações penais em razão da alegada prática de tipos criminais como desacato, dano ou qualquer outra conduta escolhida pelo seletivo aparato estatal. E é bem provável que aqueles que redigem textos como este revivam o drama de Émile Zola e tenham suas condutas capituladas em algum crime contra a honra.

Apenas uma lição deve ser extraída de tão dolorosa tragédia: o Estado Democrático de Direito é uma mentira. A legalidade é tão somente um artefato ideológico utilizado seletivamente para justificar o uso do arbítrio e da violência contra a classe social que produz, em favor da classe que parasita a humanidade. Não há qualquer cânone hermenêutico que explique a prática jurisdicional dos nossos tribunais, senão o meta-cânone da dominação de classe. É triste e muito, mas muito sofrido, aprender que um jovem alemão do século XIX, formado em direito e que com este sistema se decepcionara ainda na juventude, estava integralmente correto quando asseverou, em um misto de incitação com vaticínio, que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. Ceifaram as rosas do Pinheirinho, mas não impedirão a primavera da vitória do povo oprimido!