domingo, 31 de maio de 2009

Artigo

Produzir para o capital


Walber Meirelles Ladeira*

O princípio da autonomia é atribuído recorrentemente nos dias atuais, embora de forma bem diferenciada. Será que alguém em sã consciência ficará contra a autonomia dos sujeitos históricos? É evidente que não. Apesar do jogo de palavras utilizado, vemos que “há algo mais no ar além dos aviões de carreira.” Apesar dos esforços de tantos bem intencionados homens e mulheres da social democracia, como Ladislau Dowbor, há limites institucionais, políticos e ideológicos para a aprovação de tais consensos. O que faz empresas de diferentes matizes subscreverem e financiarem tal discussão? Será que a bünge ou a Vale do Rio Doce privatizada procurarão a mesma autonomia dos sujeitos históricos locais? Os financiamentos destas e de tantas outras empresas ao projeto de “sustentabilidade local” não comprometeriam a autonomização de tais sujeitos locais? E o papel do Estado, como sempre é fingir de morto e deixar rolar...
Não há como falar de sustentabilidade local sem que seja citado o papel do Estado nas políticas públicas por autonomização dos sujeitos. Não dá para conceber uma política compensatória que, ao invés de autonomizar, aprisiona, como é o caso da bolsa família. Esta deveria ser por tempo determinado, concomitante à elaboração por parte do Estado de políticas públicas de total autonomia como é o caso da educação e empregos decentes, por exemplo.
É bem verdade que para a administração de consensos têm sido utilizados espaços tripartites e daí vai outra questão. Como conciliar interesses os mais diferentes e antagônicos nessas câmaras inter-setoriais e transformá-los em unidade consentida na forma de produzir o desenvolvimento local integrado? O Estado que compra cadeiras por licitação nacional de uma empresa de outro estado distante sem que se tenha a ergonomia local como critério de avaliação para a definição da empresa escolhida, comete erro semelhante àquele que compra das empresas locais mais sujeitas ao caciquismo da política brasileira.
Como resolver tais questões de forma a garantir direitos aos sujeitos locais? Parece-me que está no papel do Estado. É o Estado quem deve garantir políticas públicas que promovam o acesso aos bens culturais, econômicos, sociais, políticos, ambientais etc. Mas, enquanto as cores do Estado estejam financiadas pela iniciativa privada e confluindo para o azul da social democracia, pouco ou nada se fará em nome da autonomização local dos sujeitos. Enquanto isso, a perfumaria será produtora para o capital da fragrância do simulacro.
* Formado em ciências sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora – MG. Professor, membro do Programa de Ciência da Religião da UFJF. Presidente da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz – JF. Co-fundador do Fórum Permanente de Defesa dos Direitos Humanos – JF.

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