domingo, 31 de maio de 2009

Resenha


A nova revolução copernicana: da racionalidade econômica à ambiental

Objetiva-se com a apresentação desta resenha ao texto de Enrique Leff em questão, uma abordagem dos conteúdos concernentes especificamente de um lado a racionalidade econômica hegemônica e, de outro, à possibilidade de constituição de uma nova racionalidade, a econômica. A racionalidade econômica mercantiliza a natureza, as condutas ecológicas e os valores culturais. É bem verdade que Leff (ano, p.262) defenderá que tal processo se dará na forma de uma dialética social, na “confrontação de duas ‘lógicas’ opostas”.
Daí levanta-se uma questão pertinente, uma vez que o modo de produção capitalista em geral e a fase capitalista atual reatualizam um plano quase que intransponível de estruturas que trabalham para a conformação ao sistema hegemônico do capital. Neste, a predominância é econômica sobre o ambiental e o ecológico. Ferramentas culturais, jurídicas, dentre outras, são utilizadas para que as estruturas permaneçam alicerçadas no econômico e a ele subordinados.
Leff (ano, p. 223) muito acertadamente dirá:

A degradação ecológica é a marca de uma crise de civilização, de uma modernidade fundada na racionalidade econômica e científica como os valores supremos do projeto civilizatório da humanidade, que tem negado a natureza como fonte de riqueza, suporte de significações sociais e raiz da co-evolução ecológico-cultural.

É pertinente observar que tanto no econômico, como no científico, há uma perspectiva de classe pouco explorada por Leff. Parece que essa racionalidade econômica não tem corpo definido na estrutura da luta de classes. Em sua análise, substitui tal método de análise pela racionalidade weberiana baseada na teoria da ação racional (Leff, ano, p. 243). Seus eixos vão desde o comportamento – racional segundo fins, a crença consciente do valor – racional segundo valores; da emoção – afetiva, aos hábitos arraigados – tradicional.
Ademais, Leff (ano, p. 243) reitera a tipologia definida por Weber acerca das racionalidades. Elas são: a teórica cujo domínio consciente da realidade é característica principal; a formal, definida pela capacidade de cálculo numérico dentro do processo produtivo; instrumental, com a aplicação de “técnicas eficientes de produção e em formas eficazes de controle da natureza”; material ou substitutiva cuja ação social é determinada por um conjunto de valores.
O novo padrão de desenvolvimento econômico está intrinsecamente ligado à incorporação da natureza enquanto parte fundamental no processo produtivo. Supera-se, portanto, que o desenvolvimento econômico se faz com a incorporação dos valores da natureza não mais como se esta fosse a matéria prima que sustenta unilateralmente o processo produtivo. Segundo Leff (ano, p.223), a degradação ecológica é:

a marca de uma crise de civilização, de uma modernidade fundada na racionalidade econômica e científica como os valores supremos do projeto civilizatório da humanidade, que tem negado a natureza como fonte de riqueza, suporte de significações sociais e raiz da co-evolução ecológico-cultural.


Novos processos de gestão concernentes às demandas econômicas sustentáveis terão que, segundo Leff (ano, p. 233), incorporar o cenário da diversidade cultural, da soberania nacional e autonomias locais. Isso quer dizer que a globalização deverá ser menos importante que a valorização dos processos socioculturais referentes às economias locais sustentáveis. Para Leff (ano, p. 233), há limites para o mercado. Sugere que dois eixos fundamentais de análise e incorporação econômica de valores se dá com a valorização do ambiente e a produção de objetos de sentidos a este vinculado.
Vale destaque o argumento de Leff (ano, p. 241): “A questão ambiental é uma problemática eminentemente social, gerada por um conjunto de processos econômicos, políticos, jurídicos, sociais e culturais.”
O fio condutor do texto de Leff se apresenta como um devir para as novas racionalidades quando das definições de políticas governamentais, bem como uma nova cultura individual e coletiva dos sujeitos definidores dos processos produtivos cujas bases econômicas se pautem por condutas ético-ambientais, sem os quais está fadada ao caos e a definitiva destruição dos bens ambientais.


Bibliografia

LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, s/d, 223-275

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