sábado, 2 de fevereiro de 2013

A nova sociabilidade do capital



Por Walber Meirelles Ladeira[i]


Inserida em uma sociedade de classes, a escola é representativa da mesma sociedade em que fará parte e, de modo específico, da sociedade capitalista na qual representa as análises tanto do texto constitucional e, por conseguinte, os textos indicados para a leitura, quanto do filme "Pro dia nascer feliz." Destaca-se, a manutenção de uma sociabilidade (padrão) para uma sociedade de classes, cujos mecanismos existentes, dentre outros, a escola faz parte. Os Estados nacionais, signatários de tratados internacionais, muitos deles demandam - ou esperam receber - financiamentos para o setor. 

Daí, a sujeição aos pacotes prontos de tais organismos como as chamadas "avaliações de desempenho" nas escolas públicas, por exemplo. Gaudêncio Frigotto em seu clássico livro "A produtividade da escola improdutiva" resgata essa e outras críticas ao papel do Estado como aquele que quer salvar a escola pública punindo os profissionais que nela trabalham. É evidente que a escola pública passou por muitas transformações e a diminuição do status é uma delas com, a inclusive, saída de representantes da burguesia/oligarquia do quadro de seus funcionários. Hoje, com a total precarização dos serviços públicos, o que surge é uma proletarização do setor, ocupado em diversos postos por trabalhadores e trabalhadoras advindos de uma classe que, até então, não tinha na escola pública um espaço no mercado de trabalho até então, vide Demerval Saviani em seu livro "Escola e democracia." 

Uma das mais gritantes diferenças e que o senso comum a reproduz é a capacidade de punir a classe social, cujo atendimento é feito pela escola pública, como se dentro dela não possa nascer nada que preste e que o bom é a escola particular e assim por diante. É algo ideologicamnte construído, conquistando corações e mentes para um modelo social vinculado ao privatismo, cuja ação mais eficaz para a escola pública improdutiva será a "redentora" saída pela escola particular.

Antônio Gramsci, pensador italiano, preso pelo facismo, escrevera que há um mecanismo entre os filhos de operários e os filhos da burguesia que é demonstrado pela prática de leitura entre os jovens das classes distintas. Enquanto uma tem a leitura como hábito, a segunda tem o trabalho. Enquanto aquela é mais moldada para o estudo, esta é orientada para o trabalho. E é também por isso que, para os representantes da burguesia no poder político, financiados pela burguesia econômica, uma escola que prepare para o trabalho seja a mais adequada e a que menos cause problemas ao status quo dos donos do poder.

No âmbito do Estado burguês, não haverá solução que satisfaça aos interesses de uma classe que participa da escola pública. É evidente que há uma série de problemas dentro e fora da escola pública. E os direitos fundamentais são conquistas de lutas históricas, cujos sujeitos são homens e mulheres parte deles e delas da periferia do sistema e parte, conforme Karl Marx tem "o caráter revolucionário da burguesia."





[i] Walber Meirelles Ladeira é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora com Especializações em Ciências da Religião pela mesma Universidade e em Direitos Humanos pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. É professor de sociologia e acadêmico de Direito pela UFJF. E-mail: walbermladeira@ig.com.br

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